O papel de pais e educadores no desenvolvimento cognitivo, lingüístico e social do portador da síndrome do autismo.
Este Foi fruto do Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Do Pará, no ano de 2005
Orientador:Manoel Delmo de Oliveira
Autoras :Flávia Lobato dos Santos Marvão
Iara Conceição De Souza Pinheiro
Sara Corrêa Bastos
Crianças com o olhar distante,
Distraem-se com as mãozinhas.
Com atitudes inconstantes,
Se isolam no seus mundos, sozinhas.
( Luciana Rodrigues Boralli )
Primordialmente, o
que motivou a elaboração da respectiva pesquisa, foi o contato do grupo com o
filme “Meu filho, meu mundo”, onde foi possível perceber a angústia da família
diante do prognóstico de que seu filho era autista e que não existia cura para
essa síndrome. Podemos inferir ainda que o
tratamento a que os portadores de autismo eram submetidos nas clínicas
especializadas era desumano, embora para época era comum o uso de castigos, de
choques elétricos, e de aprisionamento das crianças nessas instituições.
Outro fato que nos
despertou atenção foi a intensa modificação do cotidiano desta família após o insucesso de encontrar uma clínica
especializada que atendesse adequadamente seu filho autista, haja vista que,
esses pais passaram a viver em função
desta criança, deixando muitas vezes de realizarem suas atividades
profissionais e de darem atenção necessária aos demais filhos. Tudo isso, com o
objetivo de interagir com aquele filho,
e assim, tentar aproximá-lo da realidade.
Ressalta-se também
que esses pais após saberem que seu filho era autista, não deixaram de
acreditar que era possível encontrar profissionais e clínicas especializadas
para atendê-lo e assim ajudá-lo a desenvolver suas potencialidades na área
cognitiva, lingüística e social. No entanto, todas as clínicas que visitaram
não ofereciam um tratamento adequado ao portador dessa síndrome. Diante disso,
eles resolveram adaptar um cantinho em sua casa para intervir junto ao seu
filho, criando assim, a “Terapia Familiar”, que consistia primeiramente em
imitar os gestos da criança, depois passaram a observar o que ele gostava ou
não, logo após introduziram jogos, alimentação, ou seja, uma variedade de
recursos que despertasse a sua atenção e interesse.
Todos esses
acontecimentos nesse filme motivaram o grupo a ter interesse em obter um
conhecimento mais amplo a respeito da Síndrome do Autismo, visto que o nosso
curso de graduação em Pedagogia também é direcionado à área de Educação
Especial.
Outro aspecto
relevante que propiciou a realização deste trabalho foi o fato de existirem
obras publicadas principalmente em Belém do Pará sobre a Síndrome do Autismo.
Assim, desde 1943,
quando o autismo recebeu sua denominação pelo Dr. Leo Kanner até agora, muito
pouco se difundiu sobre o assunto em nossa sociedade. Algumas pessoas já
ouviram falar, outras nunca. Ninguém sabe dizer ao certo o que é este distúrbio
e as suas causas.
O autismo é hoje
considerado por muitos estudiosos na área como uma Síndrome comportamental com
etiologias múltiplas, sendo caracterizada por um déficit social visualizado
pela inabilidade em relacionar-se com o outro, combinada com déficit da
linguagem e alterações de comportamento.
O presente
trabalho tem como objetivo investigar a contribuição de pais e educadores de
autistas na compreensão dessa síndrome levando-se em consideração as mútuas
relações que se estabelecem entre os aspectos cognitivo, lingüístico e social.
Definição de Autismo
Autismo vem do grego; autos que significa si mesmo. Esta designação é
usada porque as crianças possuidoras desta síndrome passam por um estágio em
que se voltam para si mesmas, e não se interessam pelo mundo exterior. Gauderer
(1997:179) define o autismo como:
“uma doença grave,
crônica, incapacitante que compromete o desenvolvimento normal e uma criança, e
se manifesta tipicamente antes do terceiro ano de vida. Caracteriza-se por
diminuir e lesar o ritmo do desenvolvimento psicológico, social e lingüístico.
Estas crianças também apresentam reações anormais diversas como ouvir, ver,
tocar, sentir, equilibrar e degustar. A linguagem é atrasada ou não se
manifesta. Relacionam-se com pessoas, objetos ou eventos de uma maneira não
usual, tudo levando a crer que haja um comprometimento orgânico do Sistema
Nervoso Central”
A maioria das definições de Autismo que estão sendo utilizadas atualmente
por vários autores e profissionais que atuam nesta área reflete o consenso
profissional a que se chegou após décadas de estudos e pesquisas.
Característica do Portador de Autismo.
O autismo tem seus sintomas manifestados desde o nascimento ou nos
primeiros anos de vida, entretanto, a maioria dos pais e/ou cuidadores de
crianças não atentam para os comportamentos evidenciados pelas crianças. Esse
distúrbio manifesta-se isoladamente ou em associação com os outros distúrbios
metabólicos que afetam o sistema nervoso central, tal como a epilepsia, rubéola
congênita, espasmo infantil com hipoarritmia e esclerose tuberosa.
Casos mais graves desta síndrome apresentam sintomas como
autodestruição, isto é, demonstram comportamentos agressivos direcionados a ela
própria, e gestos repetitivos. Os primeiros sinais de autismo podem ser
difíceis de serem detectados já nos meses iniciais, entretanto, a mãe, algumas
vezes, possui a sensação de que seu bebê apresenta-se diferente das outras
crianças em algum aspecto, mas ainda assim, não é capaz de identificá-lo.
Os comportamentos estranhos observados nos primeiros meses de vida do
bebê estão relacionados, por exemplo, à falta de consciência do bebê em relação
a presença da mãe, a problemas na alimentação, e à falta de interesse a coisas
e acontecimentos externos a elas. Gauderer (1993: 144), a respeito disso
comenta que:
(...) às vezes, essas crianças passam horas se esfregando
nas cobertas dos seus berços...Crianças autistas podem se mostrar fascinadas
por luzes, e ficam, freqüentemente horas e horas olhando fixamente uma lâmpada
acesa, às vezes, gargalhando e se contorcendo de excitação(...)
Estudos apontam inúmeros comportamentos e reações que caracterizam o
portador da síndrome do autismo, dentre eles estão a dificuldade no
relacionamento interpessoal, negação de respostas a estímulos, reações anormais
a sensações diversas como ouvir, ver, tocar, sentir, equilibrar e degustar.
Apresentam também um atraso na aquisição da linguagem, e esta quando se
desenvolve, apresenta uma incapacidade de lhe dar um valor de comunicação, que
se caracteriza pela ecolalia e inversão de pronomes.
Os indivíduos autistas também manifestam dificuldades em desenvolverem à
imaginação, devido apresentarem ausência de brincadeiras de faz-de-conta. Eles
não fazem uso de gestos ou expressões faciais para transmitir seus pensamentos
e seus sentimentos.
Gauderer (1997), comenta que o choro no portador de autismo pode ser
incontrolável ou inexplicável podendo ocorrer também, risadas ou sorrisos sem
causa aparente sendo freqüente a reação exagerada (para mais ou para menos) a
estímulos sensoriais, como luz, dor ou som.
No que se refere às relações com os objetos o autista
não desenvolve relações normais com objetos que a rodeiam demonstrando relações
extremas para com eles, que pode ser uma total falta de
interesse, como pelo contrário, uma preocupação de forma obsessiva, a
exemplo de quando se troca algum móvel do quarto o autista pode reagir com
espanto através de choro ou gritos parando somente quando o objeto retorna ao
seu antigo local.
É notório, quando o indivíduo autista deseja alguma coisa, como por exemplo,
abrir a porta, utiliza as pessoas como ferramenta, ou seja, pega a mão da
pessoa e a faz girar a maçaneta.
Segundo Gauderer (1997), tanto o relacionamento com as pessoas quanto
com os objetos estão alterados no autista, sendo perceptível o interesse apenas
por parte da pessoa e não por ela inteira, ocorrendo também, a indiferença ou
aversão ao afeto e ao contato físico, à falta de contato visual e de resposta
facial. O autor ainda comenta que, há nos portadores de autismo uma fascinação
pelos movimentos giratórios que pode ser exemplificado pelo olhar extasiado a
ventiladores e qualquer objeto em rotação, como piões, rodas, pratos, dentre
outros.
Outra característica do autismo, refere-se a tendência de
levar a cabo atividades repetitivas, como por exemplo, dar voltas ou efetuar
movimentos rítmicos do corpo como dar palmadas ou movimentar circularmente as
mãos.
Vale ressaltar que, é comum nos indivíduos autistas a não
identificação de perigos reais, como veículos em movimento ou grandes alturas.
A Família e o Autista
A família é conceituada como um sistema social pequeno e
interdependente, e ainda pode ser encontrado um subsistema ainda menor,
dependendo do tamanho da família e da definição de papéis. Buscáglia (1993),
discute que todas as pessoas de diferentes maneiras, já obtiveram experiências
relacionadas à família e sentiram suas influências, às vezes traumáticas e
negativas.
Nesta perspectiva, Spraviore apud Schwartzman et (1995:266), comenta
que:
“A família, enquanto subsistema da sociedade, é o espaço em que os seres
humanos vivenciam a experiência de construir a sua identidade. È através da
família que o ser amplia suas relações com o mundo, sempre se relacionando em
grupos. Mesmo quando estamos sozinhos, nossas referências de valores e normas
sociais advêm dos grupos que internalizamos no decorrer de nossa vida”.
Assim, seja qual
forem os diversos conceitos que se têm sobre a família, é importante salientar
que o ambiente familiar é uma força poderosa, que influência no comportamento
do indivíduo, que é indispensável à vida de qualquer ser humano.
A notícia da chegada de um novo membro na família pode
significar a realização de um sonho, uma conquista, ou estreitamento
do laço afetivo,
mas também, pode ser a realização de um ideal onde os pais vivenciam com muita
expectativa a vinda dessa criança tão desejada. No entanto, quando essa criança
começa a apresentar um desenvolvimento diferente se comparada as demais
crianças esse momento passa a ser vivido com muita angústia e desesperança até
se chegar a um diagnóstico preciso.
Vale comentar que,
quando a família recebe o diagnóstico que seu filho é portador da síndrome do
autismo pode acontecer um desequilíbrio dentro desse grupo devido não estarem
preparado para o “novo”, ou seja, para lidar com a síndrome do autismo.
“O autismo do filho coloca a família frente a uma série de emoções de “luto pela perda da criança saudável que esperavam. Apresenta, por isso, sentimentos de desvalia por ter sido escolhida para viver essa experiência dolorosa”(Spraviore apud Schwartzman et al 1995: 265).
Spraviore apud
Schwartzman et al (1995), relata que na vivência de perda do filho saudável
nota-se uma perturbação aguda com os seguintes sintomas: desespero extremamente
forte, algumas vezes expresso pelo desejo de morte, raiva, amargura,
persistente, sentimento de vingança e de culpa.
Assim, nessa
família percebe-se que existe um processo de luto devido o nascimento de uma
criança especial, pois o filho saudável que esperavam não existia mais. Assim,
as relações familiares passam por mudanças, em virtude de seus membros ainda
não se adaptaram a essa nova situação.
O autismo leva o contexto familiar à ruptura entre seus membros, pois interrompe suas atividades sociais normais, o clima emocional transforma-se, no interior e exterior”(SPRAVIORE apud Schwartzman et al 1995:266).
Isso tudo se deve
ao fato da maioria das famílias com pessoas com necessidades educativas
especiais acharem que esses indivíduos não podem aprender, ou se desenvolver.
Sentindo-se frustradas e diminuídas frente ao social, pois não podem participar
em termos de igualdade do processo da sociedade, já que, a sociedade não
valoriza o ser humano que não corresponde as suas necessidades.
Spraviore apud
Schwartzman et a (1995),comenta que:
“A sociedade tem dificuldades de conviver com o "diferente as vezes expressa de forma ou clara, ou sutil, sua insensibilidade, por falta de conhecimento, rejeição e preconceito em relação não só a criança autista, mas a qualquer pessoa com alguma necessidade educativa especial”(p.269),
Após o
diagnóstico, vem o momento de adaptação, de aceitação a esta criança. Em
algumas famílias esta adaptação pode ser a longo prazo, entretanto, em outras
pode se dar a curto prazo, ou seja, varia de família para família. Perske,
citado por Powel (1992:57) explica que:
(...) quando uma nova criança apresenta uma deficiência, a família com freqüência dispende uma energia além do normal. È necessário abrir a mente e o coração, a fim de que a criança deficiente possa ser compreendida, amada e aceita como membro de um círculo familiar unido. Por outro lado, algumas famílias tornam-se frias com relação a essa criança, e muitos mudam para pior(...)
Um outro fator
relevante que influencia na dinâmica da família consiste na aceitação ou
rejeição da criança deficiente, sendo assim, a maneira como o grupo familiar
enfrentou problemas sérios no passado, está diretamente ligado à maneira como
esse grupo enfrentará novos problemas. Buscáglia (1993), afirma que:
(...) uma família pode atuar, dependendo de seu estado
psicológico, positivamente como mediadora entre a sociedade em que seu filho
viverá e um ambiente mais amoroso, receptivo e consciente de que a mesma poderá
oferecer. Para que isso ocorra, é necessário que cada membro do grupo familiar
deva adaptar seus próprios sentimentos em relação à criança deficiente
e todo o grupo familiar tem a obrigação de compreender que dessa maneira, a
mesma poderá, ajudar a criança a ajudar os seus sentimentos em relação à
própria deficiência e a si mesma, como uma pessoa completa(...)(p. 89).
Caso interresar este trabalho, por favor cite os autores
ResponderExcluir