O Transtorno Autista
O autismo tem seus sintomas
manifestados desde o nascimento ou nos primeiros anos de vida, entretanto, a
maioria dos pais e/ou cuidadores de crianças não atentam para os comportamentos
evidenciados pelas crianças. Esse distúrbio manifesta-se isoladamente ou em
associação com os outros distúrbios metabólicos que afetam o sistema nervoso
central, tal como a epilepsia, rubéola congênita, espasmo infantil com
hipoarritmia e esclerose tuberosa.
Casos mais graves desta síndrome
apresentam sintomas como autodestruição, isto é, demonstram comportamentos
agressivos direcionados a ela própria, e gestos repetitivos. Os primeiros sinais
de autismo podem ser difíceis de serem detectados já nos meses iniciais,
entretanto, a mãe, algumas vezes, possui a sensação de que seu bebê
apresenta-se diferente das outras crianças em algum aspecto, mas ainda assim,
não é capaz de identificá-lo.
Os comportamentos
estranhos observados nos primeiros meses de vida do bebê estão relacionados,
por exemplo, à falta de consciência do bebê em relação a presença da mãe, a
problemas na alimentação, e à falta de interesse a coisas e acontecimentos
externos a elas. Gauderer (1993: 144), a respeito disso comenta que:
(...) às vezes,
essas crianças passam horas se esfregando nas cobertas dos seus
berços...Crianças autistas podem se mostrar fascinadas por luzes, e ficam,
freqüentemente horas e horas olhando fixamente uma lâmpada acesa, às vezes,
gargalhando e se contorcendo de excitação(...)
Estudos apontam
inúmeros comportamentos e reações que caracterizam o portador da síndrome do
autismo, dentre eles estão à dificuldade no relacionamento interpessoal,
negação de respostas a estímulos, reações anormais a sensações diversas como
ouvir, ver, tocar, sentir, equilibrar e degustar. Apresentam também um atraso
na aquisição da linguagem, e esta quando se desenvolve, apresenta uma
incapacidade de lhe dar um valor de comunicação, que se caracteriza pela
ecolalia e inversão de pronomes.
Os indivíduos
autistas também manifestam dificuldades em desenvolverem à imaginação, devido
apresentarem ausência de brincadeiras de faz-de-conta. Eles não fazem uso de
gestos ou expressões faciais para transmitir seus pensamentos e seus
sentimentos.
Gauderer (1997)
comenta que o choro no portador de autismo pode ser incontrolável ou
inexplicável podendo ocorrer também, risadas ou sorrisos sem causa aparente
sendo freqüente a reação exagerada (para mais ou para menos) a estímulos
sensoriais, como luz, dor ou som.
No que se refere
às relações com os objetos o autista não desenvolve relações normais com
objetos que a rodeiam demonstrando relações extremas para com eles, que pode
ser uma total falta de interesse, como pelo contrário, uma preocupação de forma
obsessiva, a exemplo de quando se troca algum móvel do quarto o autista pode
reagir com espanto através de choro ou gritos parando somente quando o objeto
retorna ao seu antigo local.
É notório, quando
o indivíduo autista deseja alguma coisa, como por exemplo, abrir a porta,
utiliza as pessoas como ferramenta, ou seja, pega a mão da pessoa e a faz girar
a maçaneta.
Segundo Gauderer
(1997), tanto o relacionamento com as pessoas quanto com os objetos estão
alterados no autista, sendo perceptível o interesse apenas por parte da pessoa
e não por ela inteira, ocorrendo também, a indiferença ou aversão ao afeto e ao
contato físico, à falta de contato visual e de resposta facial. O autor ainda
comenta que, há nos portadores de autismo uma fascinação pelos movimentos
giratórios que pode ser exemplificado pelo olhar extasiado a ventiladores e
qualquer objeto em rotação, como piões, rodas, pratos, dentre outros.
Outra característica do autismo, refere-se a tendência de levar a cabo
atividades repetitivas, como por exemplo, dar voltas ou efetuar movimentos
rítmicos do corpo como dar palmadas ou movimentar circularmente as mãos.
Vale ressaltar que, é comum nos indivíduos autistas a não identificação
de perigos reais, como veículos em movimento ou grandes alturas.
Segundo Mello
(2001), o diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do
quadro clínico, não existindo testes laboratoriais específicos para a detecção
do autismo, por isso, diz-se que o autismo não apresenta um “marcador
biológico”.
Normalmente, o médico solicita exames para investigar
condições, como, possíveis doenças que têm causas identificáveis e podem
apresentar um quadro de autismo infantil, como a síndrome do x-frágil, fenilcetonúria
ou esclerose tuberosa. É importante notar, contudo, que nenhuma das condições
apresenta os sintomas de autismo infantil em todas as suas ocorrências.
Existem muitos fatores que contribuem para dificultar no
diagnóstico precoce de autismo, devido os bebês autistas além de terem a
aparência normal são calmos, mesmos com necessidade de alimentação, outros pelo
contrário, são difíceis, com hábitos irregulares de alimentação e de sono, com
períodos de choro incontroláveis. O mesmo acontece com sua postura corporal,
pois se uns têm quase sempre o seu corpo rígido, outros se mantém no colo das
mães molemente, não reagindo ao carinho.
Alguns autistas são“bebês-modelo”, quase
nunca choram, mesmo quando com fome. Outros se comportam de modo exatamente
oposto. Eles choram ininterruptamente e não podem ser acalmados, exceto talvez
embalando a criança continuamente ou levando-a para dar uma volta de carro.
Nesse caso, mesmo paradas curtas no sinal fechado fazem o choro recomeçar.
Ambos os tipos de bebês são difíceis e pouco recompensadores para os pais; os
quietos por falta de reação ou interação, e os superativos com suas demandas
impossíveis de serem satisfeitas. Nenhum dos dois estendem os bracinhos ou se
fazem prontos para serem pegos no colo, quando sua mãe se aproxima. Isso é
muito diferente no bebê normal que se mostra bastante ansioso para ser pego no
colo e afagado. (Gauderer 1993:113)
Outra dificuldade no diagnóstico refere-se aos
profissionais que poderiam fazê-lo mais cedo, como os pediatras, mas que não o
fazem devido não terem um conhecimento aprofundado nesta área. Assim, é comum
alguns desses profissionais pedirem aos pais para esperarem um pouco mais, pois
o comportamento anormal pode ser resultante da “imaturidade”, ou seja, a
criança ainda está em fase de maturação.
Diante dessa dificuldade de diagnosticar se uma criança é
portadora de autismo ou não, bem como, tendo em vista a multiplicidade de
critérios diagnósticos adotados pelos pesquisadores desde 1943, data em que foi
publicado o artigo de Leo Kanner, surgiram várias tentativas de se adotarem
critérios sintomatológicos que garantissem uma uniformidade diagnóstica,
conforme Rosenberg apud Schwartzman et al (1995: 119). Assim, para melhor
instrumentalizar e uniformizar o diagnóstico, foram criadas escalas, critérios
diagnósticos como:
· Sociedade Americana de Autismo (1965)
·
Clancy, Dugdale e Rendle-Short
(1969)
- D.S.M.III (1980)
- D.S.M.III-R (1987)
- CID – 10 (1992)
- D.S.M. IV (1994)
No entanto, somente transcreveremos alguns desses critérios
de acordo com Schwartzman et al (1995: 119):
A Sociedade
Americana de Autismo, entidade que agrega pais e profissionais nos E.U.A, desde
1965, adotou os seguintes sintomas como critérios diagnósticos de autismo:
1. Distúrbios na
seqüência de aquisição de habilidades físicas sociais e de linguagem.
2. Respostas anormais
a sensações. Qualquer um ou uma combinação dos sentidos pode ser afetada:
visão, audição. Tato, equilíbrio, olfato, paladar, reação a dor e a forma como
o indivíduo se prostra fisicamente.
3. Fala e linguagem
estão ausentes ou atrasadas,enquanto as capacidades
intelectuais podem
estar presentes.
4. Formas anormais de
relacionar-se com as pessoas, objetos e eventos.
Ainda, Schwartzman et al (1995), comentam que Clancy, Dugdale e
Rendi-Short da universidade de Qeensland na Austrália publicaram um estudo no
ano de 1969, onde se apontavam 14 características, ou seja, sinais mais
relevantes para diagnosticar o autismo, organizando o seguinte critério
diagnóstico:
1. Grande resistência
em agrupar-se;
2. Age como se fora
surdo;
3. Resistência a
situações novas;
4. Ausência de medo
frente a perigos reais;
5. Resistência a
novos aprendizados;
6. Indicação das
necessidades através de gestos;
7. Ri sem motivo
aparente;
8. Não abraça
afetivamente as pessoas;
9. Hiperatividade
física acentuada;
10. Evita olhar de frente;
11. Gira ou roda
objetos incansavelmente;
12. Afeto comum a
objetos especiais;
13. Jogos
ocasionais de forma repetitiva;
14. Comportamento
indiferente, isolado, retraído, não participante.